[Dicionário da Depressão]


depressão: espécie de panela angustiante


[amor compartilhado pela livreira tati leite]


Freguesa: Você tem dicionários?

(Não tenho dicionário, não tenho paciência, não tenho amor próprio. À parte isso, tenho em mim todo o sono do mundo)


Livreira: Ali naquela estante, senhora.


Freguesa: Mas aqueles dicionários têm o significado das palavras, né? Tem que ser um dicionário de português com o significado das palavras.


Manual Prático de Bons Modos em Livrarias: Dicionário bom é dicionário que ensina a fazer origami sem usar as mãos - e, sim, nós sabemos que existem vários outros tipos de dicionários, mas, bom, vocês entenderam o causo.

[universo em desencanto]

foto do tim maia porque sim



ding, ding, ding, porque o natal está chegando (em tempo: freguesia, façam suas compras pela internet e tenham a delicadeza de aparecer na livraria só para deixar o meu chocotone). mas então, sábado de sol? não, graças a deus. e se não tem sol a freguesia vai pra praia? não também. a freguesia vai pra: isso, vai pra livraria. e a freguesia vai pra livraria comprar livro? lógico que não. freguesia vai pra livraria comprar cd. acompanhem:

freguês: moço, tem algum cd daquele cantor... ele é negro e, hm, tem o cabelo comprido.

mocinho do cd: cantor... negro... cabelo comprido? e ele é brasileiro?

freguês: sim, brasileiro. cê sabe quem é?

(claro que sabe. ele só está repetindo sua pergunta porque quem trabalha em livraria gosta desse jeito 'chaves' de levar a vida)

mocinho do cd: não faço a mínima ideia.

(silêncio)

freguês: ele tá naquele programa lá... 

(aquele cantor lá, aquele programa lá. rapeize, assim vocês não colaboram com a manutenção do nosso sorriso 'salve, simpatia')

mocinho do cd: ...

freguês: ah, lembrei! é o CHARLES BROWN.

(você pensou no james brown? e no charlie brown jr.? a livreira aqui pensou nos dois e foi além, mas o mocinho do cd, sempre sagaz, pegou a mosca no ar)

mocinho do cd: não seria o carlinhos brown?

freguês: isso, carlinhos brown! tem algum cd dele aí? 

manual prático de bons modos em livraria: agradecemos ao 'the voice' pelo causo alcançado. 

Uma rodada de Deleuze pra galera





Quinta-feira pós-feriado. Livreira ainda está na batalha para se recuperar do carnaval fora de época (leia-se 'trabalhando de ressaca, com dores nos pés, na cabeça, mas sem deixar o movimento sexy de lado') quando o freguês coxinha, coxa creme, coxa nível hard (não, não era o rei do camarote), adentra a livraria.

Freguês: Moça, cê tem aí alguma coisa do Deleuze?

(e você aí jurando que o moço ia pedir algum da lista dos mais vendidos da Veja, né? é, eu também. olha o preconceito!)

Livreira: Sim, temos todos esses aqui (apontando para a pilha). Você tá procurando algum específico?

(freguês olha ao seu redor, coça o queixo e manda na lata)

Freguês: Olha, querida (QUE-RI-DA), eu vou mandar a real: marquei um encontro com uma moça aqui na livraria e eu tô ligado que ela adora ler... Daí eu queria que ela me encontrasse lendo alguma coisa que causasse IMPACTO.

(causar impacto? mas cê tá fazendo isso errado, moço. que tal o 'Big Penis book', meu amor?)

Livreira: Ah, entendi. Então serve qualquer livro do Deleuze?

(inclusive um que não tenha sido escrito por ele?)

Freguês: É, é... isso.

(livreira pega o primeiro Deleuze que encontra pela frente e entrega para o freguês. Ele senta na poltrona, abre o livro e faz a sua melhor pose INTELECTUAL POR UM DIA).

manual prático de bons modos em livrarias: Deleuze curtiu isso.

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